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Conexão Enogastronômica Brasil – Portugal - Episódio 2


A queijadinha

Texto por Paula Oliveira

Rostos que lembram meu avô já não mais presente. O bife com batata como minha avó fazia, E o avental todo sujo de ovo da cozinheira. O pastel de Santa Clara, de que minha mãe tanto falava. O doce de abóbora, com sabor de casa. O ar dos bairros de São Paulo nos anos 80. A língua mãe – com som diferente, mas ainda mãe. O restaurante que lembra a pizzaria na esquina da casa onde cresci, E onde fizeram meu aniversário de 4 anos. E por fim, a queijadinha. Aquela que vendiam ao lado do quindim, Nas barracas de festas juninas, Onde eu dançava vestida de caipira, Com vestido feito pelas mãos de minha avó. O gosto, a maciez, o doce da massa com o leve azedo do recheio, Que só quem já comeu sabe apreciar. Assim, há mais de 9 anos inserida na estrangeira vida anglo-saxã, Visitando o além-Tejo no último dia do ano, De saudades eu chorei.

Queijadinhas: de moeda de troca a doce típico de festa junina

Texto por Marcelo Bandeira

A poesia escrita por Paula Oliveira é simples e delicada como a própria queijadinha, o que nos inspirou a falar sobre esse doce que nos faz voltar no tempo a cada mordida.

É impossível pensar em festa junina sem as deliciosas queijadinhas e, sim, elas têm, o DNA dos doces portugueses. A receita tradicional da queijada portuguesa aportou em terras brasileiras pelas mãos dos colonizadores. Quer saber mais sobre a importância da influência portuguesa na culinária brasileira? Leia o primeiro post da série Conexão Enogastronômica Brasil – Portugal.

Um doce contrato de aluguel.

Muitas versões, mas só uma é a mais conhecida.

Cada doce conventual português tem versões que diferem de região para região, mas a queijada mais conhecida é a de Sintra, belíssima cidade encrava na serra de mesmo nome, na região da grande Lisboa. Provavelmente a queijada de Sintra é o mais antigo doce sintrense descrito na literatura portuguesado século XIII.

Basicamente são feitas de farinha, gemas de ovos, queijo fresco, açúcar e canela. Mas nem sempre foram esses os seus ingredientes mágicos. A queijada de Sintra, criada no Mosteiro da Penha Longa pelas mãos do frei João da Anunciação, tinha uma receita diferente, pois naquele período ainda não se conheciam a canela e o açúcar. Somente em 1756, uma senhora chamada Maria Sapa industrializou a sua fabricação utilizando açúcar e canela na receita. Bendito seja o açúcar que nos faz sorrir com versão atual da queijada!

Curiosamente as queijadas já serviram como moedas de troca entre séculos XIII e XVI. Registros mencionam que em 1481 o Convento da Trindade foi alugado por cem alqueires de trigo, noventa alqueires de cevada, um porco de dois anos e…uma dúzia de queijadas.

Sejam para “pagar o aluguel” ou desfrutá-las contemplando a incrível beleza natural da Serra de Sintra, as queijadas são doces seculares que despertam em nós lindas memórias da família reunida num domingo de sol.

Queijada de Sintra

Ficha Técnica por Dom Ernandes.

Ingredientes

Para a massa:

  1. 350 g de farinha de trigo

  2. 120 ml de água

  3. 1 ovo

  4. 75 g de manteiga

  5. 1 pitada de sal fino

Para o recheio:

  1. 160 g de açúcar

  2. 8 gemas1 e ½ colher de sopa de farinha de trigo

  3. 80 g de manteiga derretida

  4. 4 queijos frescos pequenos

  5. 1 colher de café de canela

  6. 1 pitada de sal fino

  7. Raspa de meio limão

Modo de Preparo

Para a massa:

  1. Junte a farinha, o sal e a manteiga e amasse a mistura com as mãos. Junte o ovo e a água e continue a amassar.

  2. Numa superfície plana e polvilhada com farinha, estenda a massa com um rolo de cozinha até esta ficar com uma espessura fina.

  3. Depois corte 12 círculos na massa e forre as formas das queijadas salpicadas com previamente com água. Reserve.

Para o recheio:

  1. Esmague ligeiramente os queijos frescos com os dedos e depois coloque-os num recipiente. Junte o açúcar, o sal, a raspa de limão, a canela, as gemas e a manteiga derretida. Misture até ficar uma mistura homogênea.

  2. Distribua a massa pelas formas e leva ao forno, preaquecido a 180º, durante aproximadamente 25 minutos.

  3. Deixe arrefecer e desenforme.

Harmonização por Marcelo Bandeira


S.V.P. - Sociedade Vinícola de Palmela – Moscatel de Setúbal 5 anos

Blend de moscatéis roxos com idade superior a 5 anos, estagiados em barricas de madeira de várias proveniências. De cor âmbar, impõem-se um perfil de evolução ainda com a fruta muito presente, onde aparecem notas de fumo acompanhadas de mel e casca de laranja. Final volumoso, fresco e bastante equilibrado.

FICHA TÉCNICA

  1. Região: Península de Setúbal – Portugal

  2. Produtor: S.V.P. - Sociedade Vinícola de Palmela

  3. Castas: blend de diversas castas de moscatéis roxos superiores a 5 anos

  4. Teor Alcoólico: 17% voL

  5. Acidez Total: 3,71 g/l

  6. Açúcar Residual: 182,6 g/

  7. Enólogos: Filipe Cardoso e José Caninhas

  8. Temperatura de serviço: 8 a 12 ºC

  9. Terroir: arenoso das zonas da Serra da Arrábida, mais próxima do mar e da influência atlântica.

  10. Denominação de origem: DOC Península de Setúbal

  11. Estágio: 5 anos ou mais em barrica.

  12. Vinificação: método tradicional do Moscatel de Setúbal.

  13. Embalagem: 500 ml


Paula Oliveira é uma paulistana ‘nômade’ que já morou na Alemanha, França e Inglaterra, onde escreveu o poema ‘A queijadinha’. Essa nostalgia talvez tenha sido o primeiro de muitos sinais que a levaram a mudar para Lisboa, onde vive com sua família e se sente mais próxima da cultura e culinária brasileira. Há mais de 20 anos trabalha na intersecção entre estratégia, marcas e desenvolvimento sustentável, e é membro do conselho de duas organizações sem fins lucrativos. Paula adora escrever, desenhar, praticar yôga, viajar e explorar diferentes gastronomias.


Marcelo Bandeira nasceu em São Paulo e se firmou como executivo de marketing de grandes companhias do setor de serviços financeiros. Filho de portugueses, viveu intensamente a cultura lusitana no Brasil até 2017. Neste mesmo ano, inspirado pela coragem dos seus avós, escolheu buscar nova vida além-mar, escolhendo para viver a cidade que conhecia tão bem com o coração e alma: Lisboa. Hoje vive com a família na margem sul de Lisboa, tem seu próprio negócio e é um amante da cultura e da culinária portuguesas e dos costumes simples de Portugal.

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