O que é Generalismo?
- Dom Ernandes

- 22 de out.
- 4 min de leitura

A Arte de Conectar o que Ninguém Mais Conecta.
Imagine alguém que entende de negócios, tecnologia, arte, comportamento e ainda consegue conversar sobre filosofia sem parecer fora de lugar. Durante muito tempo, esse tipo de pessoa foi vista como “curiosa demais”, “sem foco”. Mas, hoje, o mundo está redescobrindo seu valor — e chamando-a pelo nome certo: generalista.
Em um tempo em que tudo muda rápido demais, saber transitar entre áreas e conectar ideias é a nova forma de especialização. Como diria o publicitário e pensador Walter Longo, o profissional do futuro é um nexialista — aquele que cria pontes entre o que parecia desconectado. Não basta dominar uma técnica: é preciso compreender o contexto, dialogar com diferentes mundos e enxergar o invisível entre as disciplinas.
🌍O mundo deixou de ser linear
Durante séculos, fomos treinados para pensar linearmente. A Revolução Industrial criou a lógica da fábrica: tarefas fragmentadas, funções fixas, especialistas em cada pedaço da engrenagem. Mas o século XXI virou a mesa.
Hoje, vivemos a era da fluidez. A tecnologia dissolve fronteiras, e a informação circula com velocidade de pensamento. Um problema raramente tem uma causa isolada — ele nasce da interação entre economia, cultura, emoção e comportamento.
O sociólogo Zygmunt Bauman chamou isso de “modernidade líquida”: tudo é mutável, e quem não se adapta se perde. Nesse cenário, o generalista é quem mantém o equilíbrio. Enquanto muitos se afogam em especializações estreitas, ele aprende a nadar entre rios diferentes — conectando marketing e ciência de dados, filosofia e gestão, técnica e sensibilidade.
🔍O que é, afinal, ser generalista?
Ser generalista não é saber superficialmente de tudo. É ter uma visão sistêmica e integradora — compreender como as partes se relacionam e encontrar sentido nas conexões.
O generalista é o arquiteto das relações invisíveis. Ele não é o técnico que aperta parafusos, mas quem entende o funcionamento da máquina — e, se preciso, muda seu design.
Walter Longo define o nexialista como aquele que “transita entre disciplinas e encontra o sentido no meio do caminho”. Ele não substitui o especialista; ele integra o trabalho dos especialistas. Enquanto o especialista aprofunda, o generalista amplia. E ambos são essenciais — um dá profundidade, o outro dá direção.
🧠Filosofia e generalismo: o saber como ponte
O generalismo tem raízes antigas. Platão, em sua Alegoria da Caverna, descreveu o sábio como aquele que sai das sombras da ignorância e enxerga o todo. Esse é o movimento essencial do generalista: olhar além da própria especialidade.
Aristóteles, com sua ideia de phronesis — a sabedoria prática —, defendia que conhecimento verdadeiro é aquele que une teoria e ação. Voltaire, séculos depois, diria que pensar de forma crítica é a forma mais alta de liberdade. E Bertrand Russell, já na modernidade, reforçou que a mente filosófica é aquela que “vê o todo e não somente as partes”.
Esses pensadores não falavam de carreiras, mas de postura diante do conhecimento.E é exatamente isso que o generalista moderno faz: não acumula títulos, mas tece significados.
⚙️O generalista e o mundo dos negócios
No universo corporativo, a mentalidade generalista é cada vez mais estratégica. Empresas inovadoras buscam líderes capazes de transitar entre a técnica e o humano, entre a lógica e o intangível.A inovação não nasce da repetição, mas da conexão.
Segundo Walter Longo, o profissional moderno precisa desenvolver uma visão “multilente” — capaz de olhar um mesmo problema de ângulos diferentes. Esse tipo de visão é o que transforma um gestor em líder e um projeto em movimento.
Pense em exemplos cotidianos:
O empreendedor que entende de finanças, mas também de pessoas.
O chef que estuda marketing e comportamento do consumidor.
O educador que une psicologia, filosofia e tecnologia para ensinar melhor.
Esses perfis dominam o presente — porque unem razão, empatia e adaptação.
💡O nexialista: uma nova forma de pensar o trabalho
Walter Longo usa o termo nexialista inspirado na literatura científica dos anos 1950, onde o “nexialismo” representava o papel de quem conectava descobertas entre disciplinas diferentes. Em suas palestras e livros, ele mostra que as empresas do futuro precisam menos de “especialistas em tarefas” e mais de “especialistas em integração”.
Para Longo, a diferença entre o técnico e o nexialista é a amplitude de visão.
“O técnico vê o que está diante dos olhos.O nexialista vê o que está nas entrelinhas.”
Ser generalista, portanto, não é um luxo intelectual — é uma competência prática.É o que permite a um profissional antecipar tendências, traduzir ideias e construir pontes entre tecnologia e humanidade.
📊 A ciência confirma: equipes diversas são mais criativas
Pesquisas da Harvard Business Review mostram que grupos compostos por pessoas de formações variadas têm desempenho até 35% superior em processos de inovação. A diversidade de perspectivas obriga o diálogo, e o diálogo é o solo fértil da criatividade.
Empresas como Google, Natura e 3M valorizam esse ecossistema de saberes múltiplos. Cada colaborador contribui com um “idioma de conhecimento” — e o generalista é o tradutor entre eles.
🪞 O desafio do equilíbrio
O perigo do generalismo é a dispersão. Por isso, o ideal é seguir o modelo do profissional em “T”:
A base vertical representa uma área de domínio profundo;
A base horizontal simboliza o alcance sobre outras disciplinas.
Ou seja: aprofundar-se em algo, mas abrir-se para tudo. Esse é o ponto de equilíbrio que torna o generalista relevante — e o diferencia do curioso desorganizado.
💭 O poder de ligar pontos
Em um mundo que premia especialistas, o generalista é o rebelde necessário.Ele recusa o conforto da repetição e escolhe a aventura da integração. E como ensinava Walter Longo, “não há futuro para quem pensa em linhas retas”.
O conhecimento, assim como a vida, é uma rede. E quem entende de redes não se perde — se conecta.




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