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Gentrificação Alimentar???



Você já se deparou com aquele prato simples, da quebrada, que do nada vira tendência em um restaurante chique e triplica de preço?
Criada com I.A.

Quando a Comida Vira Exclusão de Classe.


Você já se deparou com aquele prato simples, da quebrada, que do nada vira tendência em um restaurante chique e triplica de preço? Pois é. Isso tem nome, causa, consequência e um debate urgente por trás: gentrificação alimentar.

Esse termo pode soar técnico à primeira vista, mas, na prática, ele escancara um fenômeno que está mudando a cara — e o preço — da comida que a gente conhece, consome e respeita como parte da cultura popular.


O que é gentrificação alimentar, afinal?

Gentrificação alimentar é o processo onde alimentos, ingredientes ou práticas culinárias originalmente populares e acessíveis passam por uma repaginação gourmet, ganham status e sofrem aumento de preço. Resultado? A comunidade que criou ou sempre consumiu aquele alimento acaba sendo excluída.

É o que já acontece com frequência em bairros que passam por gentrificação urbana: o espaço muda, o público muda, e quem sempre esteve ali é empurrado para fora, econômica ou simbolicamente.


Como ela se manifesta?

Vamos aos sinais clássicos:

  • Rebranding forçado: pratos ganham nomes em outras línguas ou termos rebuscados (o “arroz com galinha” vira risoto rústico de frango da fazenda com redução de caldo artesanal).

  • Preço surreal: um alimento que custava R$ 5 na feira aparece por R$ 25 num restaurante “de conceito”.

  • Estética sobre autenticidade: a apresentação passa a valer mais que o sabor e a história por trás do prato.

  • Perda de protagonismo das origens: produtores, cozinheiras tradicionais e comunidades locais não são incluídas no processo de valorização.


Exemplos, na prática

  • Tapioca: antes vendida por R$ 2 nas feiras nordestinas, agora aparece com queijo de cabra e flor de sal por até R$ 18 em cafeterias conceito.

  • Açaí: de alimento energético da Amazônia a sobremesa com leite condensado, granola gourmet e status de produto fitness.

  • Feijão-tropeiro, baião de dois, cuscuz, angu, caldo de mocotó… a lista é longa.


Mas peraí… valorizar a comida não é bom?

Valorizar, sim. Apropriar e excluir, não. O problema não está em transformar o alimento, inovar ou divulgar a culinária popular. O problema está em:

  1. Eliminar o protagonismo das origens.

  2. Aumentar preços sem retorno para a base produtora.

  3. Excluir quem sempre viveu e sobreviveu dessa comida.

É como se a comida só passasse a ter valor quando “sai da periferia” e entra num restaurante estrelado. Isso não é valorização — é apagamento.


Por que isso importa?

Porque comida é muito mais que sustento. É história. É território. É memória. É identidade. Quando a gentrificação alimentar avança, ela reconfigura o lugar da comida na sociedade, transformando cultura viva em produto de vitrine.


O que podemos fazer como consumidores e profissionais da gastronomia?

  • Valorizar produtores locais, feiras e mercados populares.

  • Citar e referenciar as origens culturais dos pratos.

  • Incluir as comunidades de origem nas oportunidades de crescimento.

  • Entender que comida boa não depende de mise en place chique.

  • Educar o público sobre o valor real da comida popular.


Reflexão: a comida é um ato político

Cada prato que você serve, compra ou compartilha carrega mais do que ingredientes — carrega histórias, saberes, trajetórias. Se vamos transformar a gastronomia em uma ferramenta de conexão e inclusão, precisamos olhar para a gentrificação alimentar com a mesma seriedade que olhamos para a mise en place da cozinha.


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